Prof. Dr.  Jack Brandão
 
 
Literatura
 
 

Anos de formação intelectual de Andreas Gryphius

 

     A formação clássica de Gryphius tem início ainda no período escolar, no colégio de Danzig que, diferentemente de outras escolas da época, não buscava apenas ensinar seus alunos por meio de fórmulas decoradas, mas estimulava-os para que trabalhassem por si mesmos. Como lá havia alunos de várias tendências religiosas, não faltavam embates intelectuais entre luteranos, arianos, menonitas e outras seitas. Tais discussões duravam várias horas, estendendo-se da manhã à noite, há inclusive relatos delas até hoje na Biblioteca de Danzig (Gdansk).[1]

     Vários professores devem ter influenciado o futuro poeta na escola, e entre eles havia o matemático e astrônomo Peter Crüger. Este ocupava então a cadeira de poesia no colégio de Danzig, sendo o único professor a quem o poeta dedicou um poema. Além dele podemos citar também Johann Mochinger, professor de eloqüência, seguidor da didática de Comenius, tendo inclusive traduzido sua obra Janua linguarum reserata para o alemão. Ambos os professores conheciam Opitz e chamaram a atenção de Gryphius para a nova poética alemã.[2] 

     Apesar dessa poética incipiente, os alunos tinham contato com as leis da poética e da retórica clássicas ainda nas classes iniciantes − como fica demonstrado na primeira obra de juventude de Gryphius, cuja forma extraiu da Eneida de Virgílio, ou da influência recebida de Ovídio e Lucano. Dessa forma, o poeta cultiva poesias em latim, apesar de dar os primeiros passos em direção à poética alemã, escrevendo inclusive uma série de sonetos em alemão.

     Após a morte de Schönborner, Gryphius que contava com 22 anos dirige-se a Leiden, na Holanda, para entrar na universidade, juntamente com muitos silesianos como Christian Hofmann von Hofmannswaldau, com quem mantém amizade.

     Gryphius matricula-se na universidade em 26 de julho de 1638. Assistia a seminários de diversos professores, sobre variadas áreas e assuntos: metafísica, geografia, trigonometria, quiromancia e anatomia prática[3], além de participar de vários debates. Assim, o poeta estava no local correto, a Holanda de então, para suas aspirações por conhecimento.

     O país vivenciava, naquele momento, um fantástico desenvolvimento cultural, científico e econômico. O estudo dos clássicos no século XVII, por exemplo, concentrou-se no país, principalmente na Universidade de Leiden, onde a crítica textual dos autores da Antigüidade, na maioria latina, floresceu nas mãos de Justus Hermann Lipsius, Gerhard Johann Vossius, Hugo Grotius, Johann Friedrich Gronovius e Daniel Heinsius, alguns dos quais foram professores de Gryphius.

     É inconteste que a universidade tenha aberto os caminhos do conhecimento para o jovem silesiano, pois ali além dos seminários que assistia:

(...) studierte Philosophie, Rechtswissenschaft und Medizin und hielt selbst nach altem Brauch zahlreiche Vorlesungen über Geographie, Trigonometrie, Logik, ja sogar über Physiognomie, Poetik, Wahrsagerkunst und Altertumskunde. Er beschäftigte sich auch mit Astronomie und mit prakticher Anatomie.[4]

     Gryphius torna-se, segundo Lohenstein, o ideal pedagógico do polímata, já que “Gryphius (...) achava que ser erudito era não ter lacunas em nada, saber algo de muitas coisas, e sobre uma coisa saber tudo.”[5].

     Em 1643, Gryphius, que já preparava sua volta à Silésia, apesar de a guerra continuar seu curso ali, é convidado a excursionar pela França e Itália com um grupo de Leiden, de onde partem em maio de 1644. Percorrem diversas cidades como Paris, Marselha, Florença, Roma. Na Cidade Eterna, Gryphius fará amizade com o jesuíta alemão Athanasius Kircher[6], chegando, finalmente, a Estrassburgo, onde o grupo se dissolve e o poeta lá permanece. Em 25 de maio de 1647, deixa a cidade, passa por Speyer, Mainz, Frankfurt, Colônia, Amsterdã e chega a Stettin, onde Gryphius permanece na casa de seu amigo Schlegel. De Stettin parte para Fraustadt, na Polônia, onde morava seu padrasto, Michael Eder.

     Gryphius permanece na cidade na esperança de que o processo de paz se acelere, entrementes, devido à sua fama e às muitas relações feitas no exterior, muitas universidades convidem-no para ministrar aula: Heidelberg, Frankfurt no Oder, e na sueca Uppsala, entretanto o poeta rejeita a todas.

© Prof. Dr. Antônio Jackson de Souza Brandão

[1] Cf.: SZYROCKI, Marian. p. 22.

[2] Cf.: id ibidem. p. 22

[3] O poeta sentiu-se atraído pelo theatrum anatomicum, entusiasmava-se com as aulas de anatomia tendo inclusive participado de algumas delas. Havia ali inclusive múmias do Egito e “incontáveis raridades que estimulavam a fantasia de um poeta.” Id ibidem, p. 29.

[4] GRYPHIUS, Andreas. p. XV. [Tradução livre: (...) estudou filosofia, direito e medicina, apreentando também, como era de costume, vários seminários sobre geografia, trigonometria, lógica e, até mesmo, sobre fisionomia, poética, profecia e estudos da Antigüidade. Ocupava-se também com astronomia e anatomia prática].

[5] LOHENSTEIN, Daniel Casper Von. Blumen. Breslau, 1708. Apud. BENJAMIN, Walter. p. 114.

[6] Erudito professor que descreveu e ilustrou a câmara escura em forma de liteira − que possibilitava ao artista desenhar em vários locais; a descrição da laterna mágica na obra Ars magna lucis et umbrae, de 1646; e tentou desvendar os segredos dos hieróglifos egípcios, como já havia sido dito anteriormente. Cf.: SZYROCKI, Marian. p. 32, e SCHREIBER, Hermann. p. 31.

    

 

 

 










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