I
Grécia
Primeiros dados da ciência
linguística: séc. V a.C.;
Os gregos do período
clássico reconheciam diferenças entre as línguas
devido ao comércio com outros povos devido ao
comércio, além de suas próprias diferenças dialetais;
os estrangeiros possuíam línguas bárbaras;
Alguns dialetos não
tiveram representação gráfica.
Ilíada
e Odisseia: serviram como base de formatação
linguística (recitados em praça pública desde o séc.
VI a.C. em Atenas).
Alfabeto grego: primeiro a
distinguir os segmentos de vogais e consoantes
(distintivos) a partir do alfabeto fenício (não
possuía vogais);
Importância dos sofistas (vendiam
conhecimento);
Crátilo: discussão entre
se haveria uma relação entre significante x
significado (por exemplo, palavras onomatopaicas,
tese seguida pelos defensores da natureza) ou seria
simplesmente uma arbitrariedade (segundo os
defensores do convencionalismo); defendia o caráter
natural da língua;
Sócrates: primeiro a
investigar as potencialidades da gramática. Não
deixou nada escrito;
Platão e sua obra
Crátilo: repleto de referências linguísticas;
Estoicos: os primeiros a
tratar as questões linguísticas de modo mais
concreto; já diferenciavam a dicotomia significante
x significado; trataram da fonética, gramática
(especialmente o desenvolvimento da teoria e
terminologia) e etimologia; naturalistas,
anomalistas;
Aristóteles:
convencionalista (afinal as onomatopéias variam de
língua para língua, dependendo do sistema fonológico
de cada uma), analogista;
Período helenístico:
desenvolvimento de glossários de dialetos;
surgimento das marcas de acento e pontuação na
escrita (prosódia); grande estudo dos textos
homéricos;
Controvérsias: princípio
da convenção (thésis) x natureza (physis)
[analogistas x anomalistas];
Dicotomia: analogistas
(língua sob o princípio da analogia) x anomalistas (língua
sob princípio da anomalia);
Principais ramos para os
gregos: etimologia (não muito desenvolvida),
fonética (ideia de sílaba; distinção entre vogal e
consoante; distinção entre fonema, forma escrita do
fonema e designação do fonema; sequências sonoras) e
gramática baseada em palavras: identificação da
palavra; conjunto de classes de palavras; categorias
gramaticais.
Dionísio da Trácia:
primeira descrição explícita da língua grega;
gramática de Dionísio: apresentação do valor
fonético das letras (os antigos não conseguiram
diferenciar sons de letras); desenvolvimento da
morfologia; descrição gramatical > valor mínimo:
palavra; valor máximo: frase (expressão de um
pensamento completo); classes de palavras: nomes,
verbos, particípio, conjunção, preposição, artigo,
pronome, advérbios; Nomes> gênero: masculino,
feminino, neutro; tipo: primitivo, derivado; forma:
simples, composta; número: singular, plural, dual;
caso: nominativo, acusativo, dativo, genitivo,
vocativo; verbos: modo, voz, tipo, forma, número,
pessoa, tempo, conjugação.
II
A cidade de Atenas passa a ter grande
importância após as batalhas de Maratona (
Em vista desta necessidade, desenvolveu-se
o magistério, quase sempre particular e ministrado por mestres,
conhecidos por sofistas. Estes querendo conquistar fama e
riqueza, tornaram-se mestres de eloquência, de retórica, ensinando
aos homens ávidos de poder político a maneira de consegui-lo. O
conteúdo desse ensino abraçava todo o saber, a cultura, de modo
enciclopédico, não por si mesmo como no caso dos filósofos, mas pelo
pagamento.
Sócrates (469-
Nenhum livro sobrou do tempo dos primeiros
filósofos e sofistas. Ficaram, porém, fragmentos na obra de Platão,
Aristóteles e outros que os citaram e discutiram.
Platão (427-
Aristóteles (384-
Após este período clássico da filosofia
grega serão mais profusos os trabalhos dos filósofos e gramáticos,
dentre os quais se destacarão no futuro próximo Dionísio da Trácia e
Apolônio Díscolo (gramáticos gregos), Donato e Prisciano (gramáticos
latinos).
A língua e os antigos
A questão fundamental sobre a língua é sua
definição: ou ela é uma expressão, que remete a atenção para um
objeto (ou assunto), ou é apenas uma obra sem intencionalidade. Essa
pergunta pode se alargar e abranger a arte em geral, será que essa
exprime intencionalidade ou não. Contudo, em nenhum momento da
antiga história dos estudos linguísticos e da arte em geral como
expressão intencionalística foi claramente posta.
O problema, entretanto, esteve incubado,
porque já era tratado em relação à expressão mental. Aristóteles
desenvolveu amplamente a natureza do pensamento como expressão. O
pensamento não é apenas um ente em si, fechado sobre si mesmo. É um
ente essencialmente virado para o objeto, mediante uma relação
intencionalística. Este teoria não se aplicou logo à arte.
Os antigos, até o início dos tempos
modernos, tendem a conceber a arte simplesmente como coisa. Esta
coisa seria uma criação artificial realizada pelo homem; sua criação
tinha como paralelo a coisa natural. Por vezes se fazia até o
paralelo; arte, coisa bela criada pelo homem; natureza, coisa bela
criada por Deus. Obviamente, a
distinção entre língua como expressão e como instrumento de
comunicação também não teve desdobramento na Antiguidade.
A artificialidade da língua, defendida
pelo analogistas contra os anomalistas: eis o acento
das discussões antigas. Tratavam de determinar, se a língua é
produto de uma convenção humana (e então a língua seria artificial),
ou se ela existe de natureza (e então a língua seria natural, ainda
que por corruptela se diferenciasse entre os povos).
Atenda-se aqui para a polissemia da proposição "língua natural",
pois também se denomina a "língua natural" o que, embora se
considere convencional, surge espontaneamente, isto é, naturalmente,
no curso da eventualidade das circunstâncias.
Efetivamente, é natural ao homem a
capacidade de inventar a língua, mas a língua em si mesma não é
natural. Portanto, o ponto de partida da história da linguística e
da filosofia da língua está se responder a pergunta sobre a
convencionalidade ou a naturalidade da língua.
Os analogistas
A convencionalidade da língua já tinha
sido discutida no final do período pré-socrático da filosofia grega
pelos sofistas, atomistas, derivando o assunto finalmente para
dentro dos diálogos de Platão, em que se mostra também o
envolvimento de Sócrates, bem como pela escola de Alexandria.
A convencionalidade da língua já havia sido sugerida por
Parmênides de Eleia, quando este diz que as palavras são
etiquetas das coisas ilusórias. Reflete-se ali a gnosiologia do
grande metafísico de Eléia (cidade da Magna Grécia, hoje Vélia na
Itália), para o qual o ser é uno e imutável, como demonstra a
inteligência; em consequência, temos de considerar ilusórias as
variações numéricas e qualitativas apresentadas pelos sentidos e
denominadas pelas palavras. Não conhecemos outros detalhes do
pensamento de Parmênides a respeito da língua.
Repetiu-se o pensamento unicista da
metafísica eleática na escola socrática menor de Mégara (junto de
Atenas). Ali esteve Platão antes da fundação de sua Academia (
Para Hermógenes e muitos outros... os
nomes procedem de convênios que representam as coisas para os que
intervierem nestas convenções, conhecendo-as com antecipação. A
propriedade dos nomes nasce exclusivamente deste pacto. Não existe
nenhuma razão para fixar-se no sentido que têm no presente. Do mesmo
modo poder-se-ia chamar grande o que se chama pequeno, como pequeno
o que se chama grande. (Crátilo 433)
O
atomista Demócrito (460-
1.
coisas diversas são denominadas pelos mesmos
nomes (homonímia);
2.
diversidade de nomes para a mesma coisa (sinonímia);
3.
possibilidade de mudança dos nomes;
4.
ausência de analogias na mudança dos nomes.
Na mesma época, os sofistas sustentaram uma posição cética, tanto do
pensamento em relação às coisas, como da língua em relação ao
pensamento. Esta posição favoreceu a doutrina da convencionalidade
da língua. Declarou Górgias (487-
A língua não exprime as coisas
existentes, nem as coisas existentes manifestam a própria natureza a
uma delas.
Finalmente é o mesmo Platão (427-
A tradição analogista permanecerá, como já foi dito, com os
gramáticos de Alexandria.
Os anomalistas
Teve alguma consistência entre os gregos a
teoria da linguagem como expressão natural (não convencional). Seus
defensores vieram depois a chamar-se anomalistas e eram
representados sobretudo por Crátilo de Atenas, e depois pelos
gramáticos de Pérgamo (contra os de Alexandria) e pelos estoicos, os
quais por isso deram desenvolvimento à etimologia.
A naturalidade da língua defendida pelos
anomalistas não se diz apenas no sentido de capacidade natural do
homem criar uma língua; neste caso, o produto seria artificial. Não
é desta capacidade natural de criar a língua, que falam os
defensores da língua como expressão natural. Trata-se da relação
natural entre a língua e os objetos expressos. A pintura e a
escultura expressam naturalmente objetos, enquanto apelam a uma
mimese natural entre as cores e as formas da expressão e as cores e
as formas do objeto. Aconteceria a mesma relação natural entre a
língua e os objetos expressos.
Os defensores da língua natural estabelecem diferentes graus para
esta naturalidade mimética entre expressão e objeto expresso. Uns
afirmam uma relação natural maior de semelhança; outros uma relação
menor, com diferenças acidentais, que explicariam a variação entre
si das línguas.
A questão é intrigante, pois em última
instância, também a convenção é uma espécie de mimese natural. A
língua operando por equivalentes convencionados, estes são em
primeiro lugar uma mimese, ainda que convencional; são mimese,
porque deverão funcionar como se fossem idênticos aos objetos e, por
serem assim considerados, idênticos, os conseguem expressar.
Em segundo lugar, os equivalentes são
coisas naturais, como sons, cores, formas; no caso da língua se
trata de sons; em outras linguagens convencionais, são ainda tomados
como equivalentes as cores, as formas. Tais coisas naturais são
operadas pelo homem, dando-lhes significados por convenção. A teoria
da linguagem natural elimina a necessidade da convenção, porque por
natureza as palavras possuiriam o poder de significar.
Com referência ainda à possibilidade de inserir o natural no
conceito de língua convencional, deve-se mencionar a teoria dos que
consideram o código da língua de tal maneira difícil de ser criado
que, ainda que convencional, precisa de Deus para estabelecê-lo e dá-lo
a conhecer. Neste plano se situam todas as mitologias, as quais
atribuem a Deus o ensino da língua ao homem, bem como sua
diversificação, como na curiosa narrativa da Torre de Babel (Gn 11).
Crátilo de Atenas (séc.
V a.C.), já mencionado, foi o primeiro a defender o caráter natural
da língua. Ligado ao pensamento naturalista da Escola Jônica a que
pertenceram Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso, tendeu a procurar
na mesma natureza a língua, por vezes até ao ponto de explorar a
semelhança das letras com o objeto, com vistas a interpretar a
capacidade de expressão da palavra, do mesmo modo como por simples
imitação as cores e formas exprimem na pintura e escultura.
Platão fora,
inicialmente, discípulo de Crátilo e conhecia a nova teoria da
língua. Em torno dela montou o diálogo, a que deu o título de
Crátilo, cujos interlocutores são o mesmo Crátilo (da língua
natural) e Hermógenes (da língua convencional) e entre os dois é
introduzido Sócrates que, nos diálogos de Platão, representa as
ideia s deste que, no caso, argumenta contra a teoria da linguagem
natural.
Hermógenes, no diálogo, se dirige ao outro
lado, apresentando Sócrates, quando também resume a teoria da língua
natural, de seu contendor:
Hermógenes.
Ó Sócrates, eis aqui Crátilo, que pretende que cada coisa tenha um
nome, pertencente por natureza à cada realidade; que não é um nome
aquele, de que se valem alguns, depois de o haverem posto, por
acordo, para servir-se dele; e que um nome com tais condições só
consiste em uma certa articulação da voz; que existe um sentido de
denominação originária tanto para os gregos como para os bárbaros.
(Crátilo
Mais tarde os gramáticos da escola de
Pérgamo (Ásia Menor) e os gramáticos estoicos defenderão uma
variante do naturalismo linguístico inaugurado por Crátilo de
Atenas. A discussão sobre o caráter natural ou convencional da
língua – tão cedo ocorrida na história da linguística – incidiu
sobre uma das questões mais graves da língua, ainda que não
essencial como é a mesma expressão. Ainda que seja mais fundamental
tratar da língua como expressão, onde se encontra a sua essência,
ganha imediatamente após importância a pergunta, - se a expressão é
natural, ou se é apenas convencional.
A resposta plena, sobre a naturalidade ou convencionalidade da
língua, somente se pode dar, principiando pela expressão em si mesma.
Não é uma questão simples, porque importa numa teoria. Suponha-se
a teoria, que a expressão se processa fundamentalmente por mimese.
Consiste a mimese no fenômeno pelo qual o semelhante expressa o
assemelhado. E então ainda se verifica haver duas
alternativas: a mimese é natural entre as qualidades; é
convencional em outros casos.
No segundo caso, no da mimese por
convenção, os equivalentes se estabelecem por obra do "faz de
conta que...".
As relações convencionais entre a língua e os objetos foram
abordadas por Aristóteles, ao mesmo tempo que tratou da
lógica e da retórica. No opúsculo Da interpretação (segundo
livro do Órganon) afirma expressamente o caráter convencional
da língua:
Nenhum dos nomes é tal por natureza,
mas somente quando se tornou convenção. (Da
interpretação,
Ainda que a língua não seja a tradução
direta do pensamento, mas dos objetos, estes aparecem por meio da
mente. Por isso, a língua não expressa as coisas concretas tais
quais são, mas ao modo como são mentalizadas, sobretudo na forma de
juízo. Esta sequência, já notada por Aristóteles, é sua
característica.
Gramática antiga.
Os gregos cuidaram mais da gramática do
que da linguística. Trataram, pois, da língua já realizada em um
determinado sistema de expressão. A gramática é sempre a gramática
de uma língua, e não o estudo das condições totalmente gerais da
língua.
A linguística para os gregos se limitou a
alguns aspectos como, por exemplo, o do caráter convencional ou
natural das palavras. Os gregos ainda não faziam clara distinção
entre o que se apoiava em considerações racionais da filosofia e o
que em constatações empíricas ao modo do método das ciências
positivas. Por isso os resultados por eles obtidos, interessam hoje,
ora ao filósofo, ora ao linguista. Quando os dados simplesmente
apontam para elementos concretos da linguagem, eles se situam na
fase preliminar, chamada do objeto material; este é idêntico para
todas as ciências, as quais apenas se vão distinguir no objeto
formal, isto é, no ponto de vista abordado. Só aos poucos os gregos
foram apontando para os diferentes fatos da língua: o nome, o verbo,
a conjugação, etc.
Platão destacou na linguagem a sentença,
como a unidade que compõe o discurso.
Na sentença apontou a distinção entre o nome e o componente verbal.
A partir dali se desenvolveu posteriormente a análise sintática e a
classificação dos vocábulos.
Aristóteles acrescentou ao nome e ao verbo os súndesmoi, com
o que indicava o que atualmente equivale ao artigo, conjunção,
pronome. No grego, súndesmoi significa conexões, ataduras.
Aristóteles também advertiu para a especificidade do adjetivo;
chamou-o igualmente de verbo, já que, no grego, o adjetivo tem um
comportamento sintático similar ao verbo.
Posteriormente, os alexandrinos dirão que o adjetivo é uma
subclasse dos substantivos. ainda Referiu-se à derivação e às
variações dos casos resultantes das declinações que, no grego, são
numerosas. Denominou também de casos as variações de tempo dos
verbos. Depois de Aristóteles crescem, sobretudo, os conhecimentos
de gramática, sem todavia perder de vista os de linguística em geral,
os estoicos esclarecerão melhor os casos, no sentido como ainda hoje
se entendem as declinações das palavras.
Linguística dos helênicos
Criado o império helênico por Alexandre
Magno, estendendo-se da Índia à Grécia, tornou-se Alexandria, por
ele fundada em
Vinha logo atrás a própria Atenas, onde persistiam as escolas, com
seu longo passado. E na Ásia Menor, Antioquia e Pérgamo, onde passou
também a florescer a literatura grega, havendo tido a gramática
campo próprio de desenvolvimento.
Dionísio da Trácia
destacou-se em fins do séc. II a.C. Ocupou-se com o sistema
morfológico, então indicado como regularidades analógicas. Sua
gramática descreveu duas unidades básicas: a sentença (lógos)
e o vocábulo (léxis). Cuidou principalmente dos vocábulos,
que são "partes do discurso", arrolando ao todo oito classes: artigo
(árthron), nome (ónoma), verbo (rhema),
princípio (metoché), pronome (antonymía), advérbio (epirrhema)
e conjugação (súndesmoi).
Três séculos mais tarde, Apolônio
Díscolo completará a Dionísio com o desenvolvimento da sintaxe,
mostrando na oração a binaridade nome e verbo, e ainda apontando as
relações de concordância destas duas classes entre si e com as
demais.
Ainda que não alcançando uma gramática plena, os trabalhos de
Dionísio o Trácio e Apolônio Díscolo integram ainda hoje o sistema
que se apresenta como sendo o da língua.
Os estoicos foram os que mais se ocuparam
com os estudos da gramática. Embora os escritos dos primeiros
estoicos sobre gramática se tenham perdido, ficaram, todavia, alguns
dos seus resultados conhecidos por informações de terceiros.
Em geral anomalistas, os estoicos
defenderam o caráter natural da língua. Apontando para suas
irregularidades, contestavam aos analogistas. A gramática dos
estoicos oferece quatro classes das palavras: nome, verbo, conjunção,
artigo. Nesta classificação os adjetivos são citados entre os nomes.
Dividindo posteriormente entre nomes
próprios e comuns, passaram os estoicos a referir-se a cinco classes
de palavras. Introduziram também a distinção entre caso reto
(nominativo) e os casos oblíquos (acusativo, genitivo, dativo). O
nominativo seria a forma primeira; os demais, dele derivados.
Classificaram os verbos em passivos e ativos, em transitivos e
neutros intransitivos. Distinguiram entre aspectos concluso e
inconcluso do verbo.
Anomalistas x analogistas
A ocorrência das exceções na língua foi um
segundo importante questionamento específico linguístico já tratado
pelos antigos, sobretudo a partir do séc. II a. C. A discussão
sobre a forma da palavra em relação ao seu significado foi
finalmente concentrar-se no fato de haver exceções. Enquanto a
maioria das palavras seguia um modelo (paradigma, no grego),
verifica-se uma grande frequência das exceções. Dali resultaram as
denominações das duas diretrizes já citadas sobre a origem da língua:
a dos anomalistas (ou da língua natural) a que pertencem
sobretudo os filósofos estoicos e os gramáticos da escola de Pérgamo;
e a dos analogistas (ou da língua convencional), dos
gramáticos de Alexandria, sobretudo Dionísio da Trácia e Apolônio
Díscolo.
Os anomalistas insistiam na frequência das exceções e na presença de
diversos tipos de analogias dentro de uma mesma classe de palavras.
Estabeleceram que a língua não podia depender da convenção do homem;
se assim fosse deveria ser mais regular, porque a lógica
prevaleceria sobre a irregularidade. Resulta que a língua nasce da
natureza, revelada no uso.
Admitiam os estoicos uma relação entre o
significado da palavra e seu portador material, de cuja forma
natural este significado derivava. Ainda que o uso corrompesse a
palavra natural, ela permanecia, podendo ser procurada.
Em consequência estimularam os estoicos a
ciência da etimologia para estudo dos étimos (étymos =
verdadeiro, real) Haveria, pois, uma aproximação entre a linguagem e
as artes que expressam por mimese natural. Este conceito de língua
natural persistiu através dos tempos e se apoiava inclusive em vagas
afirmações dogmáticas das religiões, cujos mitos davam a Deus o
mérito de haver criado as línguas.
Por quase dois séculos floresceu a cidade
de Pérgamo, capital de um reino helênico, na Ásia Menor (280-
Continuam também os analogistas. Desde o
séc. III a.C., os analogistas de Alexandria cultivaram a gramática,
desenvolvendo amplamente o estudo das diferenças, inclusive as entre
o grego contemporâneo e o clássico (de Homero), com glossários para
facilitar a leitura deste. Apesar de haver dominado a corrente
convencionalista (ou analogista) da linguagem, continuou a persistir
fortemente a imagem da língua natural.
Não haveria tão cedo uma tentativa de
língua criada por convenção expressa.
Continuou a linguística de dois milênios limitada ao estudo
meramente antropológico de línguas preexistentes, seja nos seus
aspectos sincrônicos, seja nos diacrônicos ou históricos, como se a
linguística consistisse apenas em um compreender e conservar
máquinas velhas, sem inventar novas e mais adequadas aos interesses
da sociedade.
Adaptado de:
www.cfh.ufsc.br/~simpozio/megaestetica/estetica_literaria/apresenta.htm