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Falação
O Cabralismo. A civilização
dos donatários. A Querência e a Exportação.
O Carnaval. O Sertão e a Favela. Pau-Brasil.
Bárbaro e nosso.
A formação étnica rica. A riqueza vegetal. O
minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a história da Penetração e a história
comercial da América. Pau-Brasil.
Conta a fatalidade do primeiro branco
aportado e dominando diplomaticamente as selvas selvagens. Citando
Virgílio para tupiniquins. O bacharel.
País de dores anônimas. De doutores anônimos.
Sociedade de náufragos eruditos.
Donde a nunca exportação de poesia. A poesia
emaranhada na cultura. Nos cipós das metrificações.
Século vinte. Um estouro nos aprendimentos.
Os homens que sabiam tudo deformaram como babéis de borracha.
Rebentaram de enciclopedismo.
A poesia para os poetas. Alegria da
ignorância que descobre. Pedr’Álvares.
Uma sugestão de Blaise Cenfrars: – Tendes as
locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio
rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção
oposta ao vosso destino.
Contra o gabinetismo, a palmilhação dos
climas.
A língua sem arcaísmos. Sem erudição.
Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros.
Passara-se do naturalismo à pirogravura
doméstica e à kodak excursionista.
Todas as meninas prendadas. Virtuoses de
piano de manivela.
As procissões saíram do bojo das fábricas.
Foi preciso desmanchar. A deformação através
do impressionismo e do símbolo. O lirismo em folha. A apresentação
dos materiais.
A coincidência da primeira construção
brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
Contra a argúcia naturalista, a síntese.
Contra a cópia, a invenção e a surpresa.
Uma perspectiva de outra ordem que a visual.
O correspondente ao milagre físico em arte. Estrelas fechadas nos
negativos fotográficos.
E a sábia preguiça solar. A reza. A energia
silenciosa. A hospitalidade.
Bárbaros, pitorescos e crédulos. Pau-Brasil.
A floresta e a escola. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação.
Pau-Brasil.
Canto de
regresso à pátria
Minha terra
tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua!
uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
Relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
O Sul-Americano Calabar
Torcida indígena a favor de um imperialismo "civilizador". Leitor
pequeno-burguês, não será você?
No Brasil há duas correntes de opinião: os que acreditam que a
guerra holandesa acabou e os que sabem perfeitamente que ela
continua, através de fundings, empréstimos e tomadas de poder por
este ou aquele grupo calabarista.
pronominais
Dê-me um
cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
As meninas
da gare
Eram três ou
quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
O gramático
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou.
O capoeira
— Qué apanhá sordado?
— O quê?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Cidade
Foguetes pipocam o céu quando em quando
Há uma moça magra que entrou no cinema
Vestida pela última fita
Conversas no jardim onde crescem bancos
Sapos
Olha
A iluminação é de hulha branca
Mamães estão chamando
A orquestra rabecoa na mata
Bonde
O transatlântico mesclado
Dlendlena e esguicha luz
Postretutas e famias sacolejam
Fotógrafo Ambulante
Fixador de corações
Debaixo de blusas
Álbum de dedicatórias
Marquereau
Tua objetiva pisca-pisca
Namora
Os sorrisos contidos
És a glória
Oferenda de poesias às dúzias
Tripeça dos logradouros públicos
Bicho debaixo da árvore
Canhão silencioso do sol